segunda-feira, 11 de abril de 2022

ECOTURISMO COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

 




REPENSANDO O ECOTURISMO COMO ATIVIDADE SUSTENTÁVEL E INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PERSPECTIVA DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NO SÉCULO XXI

 

Magda Beatriz de Almeida Matteucci

Enga Agrônoma, Dra. Desenvolvimento Sustentável – Gestão Ambiental/ CDS-UnB

                                                                          

Antonio da Costa Neto

Administrador, Especialista em Sociologia do Desesenvolvimento e Mestre em Educação/FMV/UnB

 

DECARAÇÃO SOBRE O AMBIENTE HUMANO

Estolcolmo1972

Princípio 19

“É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É, igualmente, essencial que os meios de comunicação de massas evitem contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos”.

 

1-INTRODUÇÃO

 

São inegáveis os benefícios não só econômicos e sociais, mas culturais, éticos, humanos, ecológicos, dentre outros, que o ecoturismo e suas práticas podem proporcionar. É indubitavelmente um recurso e mais que isso, um instrumento significativo para o país, gerando empregos, a diversificação das relações comerciais e das economias regionais envolvidas no processo e inúmeros outros fatores possíveis de serem adicionados. Nisto reside sua relevância, em especial dentro dos tempos em que vivemos em que tudo se soma e que, frente aos desafios do mundo será pouco todo o esforço que for feito em favor das questões ambientais, isto é fato.

Impossível abdicar de qualquer forma de benefício para a construção de uma sociedade melhor, justa, democrática, humana e que garanta um mínimo de cidadania e dignidade na qualidade de vida de seus cidadãos. E no presente estudo colocamos em pauta o ecoturismo e a educação ambiental como pontos fundamentais neste contexto, buscando atender, ainda que, tardiamente, anseios e necessidades que se acumulam historicamente, não só no Brasil, mas em todas as dimensões planetárias.

Há, num primeiro e fundamental aspecto, a necessidade de se estudar sua instrumentalização no processo de Educação Ambiental – numa abordagem em que se inclui o ecoturismo como instrumento ou ferramenta para sua implementação de forma eficiente, eficaz e efetiva frente aos desafios comuns que  que o planeta como um todo enfrenta momento histórico de caos efusivo na virada de século e de milênio, o que requer uma profunda mudança de paradigmas em todas as ciências e suas respectivas práticas sociais.

É necessário repensar, ao mesmo tempo, o contexto tanto do ecoturismo como da educação ambiental inserindo um no outro, transformando-os, quase que instintivamente em um só bloco, para que suas teorias, práticas e práxis possam se completar mutuamente, na linha de instrumentos, ferramentas, métodos e processos, servindo, ambos e, simultaneamente, às causas e objetivos micro, em nível de pessoa e macro, falando em grupos sociais e comunidades mais amplas.

Considera-se aqui a necessidade de um trabalho de conscientização sobre o valor da natureza e da integração do ser humano com a mesma. E o que fazer dentro de uma abordagem trans, multi e interdisciplinar, fundindo técnicas e modalidades de se fazer o ecoturismo e, ao mesmo tempo, a possibilidade de se desenvolver processos de ensinar e de aprender dentro de uma perspectiva da educação, logicamente, ambiental.  Em princípio, atendendo as expectativas, as necessidades, os desafios e demandas na realidade atual neste sentido, daí a sua complexidade e pertinência.

O propósito é contextualizar a educação ambiental dentro do caráter de sua concepção, educando o sujeito enquanto um “ecoturista”. Projetando e promovendo no próprio ecoturismo elementos que envolvam o desenvolvimento natural e simultâneo da própria consciência ecológica no processo do turismo em si, inclusive, como entretenimento e como lazer.

Possibilitar o acesso a espaços naturais como cidades do interior, vilas, povoados mais simples, cachoeiras, rios e montanhas. O convívio com a fauna, a flora, as populações autóctones e propiciar com que o cidadão perceba esse contexto. Revigorando condições e atendendo e às necessidades para a sobrevida do ser humano no planeta, com o que se cumpre o duplo sentido de se promover o ecoturismo, e, ao mesmo tempo educar as pessoas. Promover, desenvolver o senso e a consciência ecológica inequivocamente perdida dentro de séculos de rigores de um capitalismo consumista, explorador e perverso. Sendo esta, uma medida de urgência, inserindo temas como a preservação das matas e florestas, o declínio da Amazônia, o desmatamento ilegal e imoral, a questão das águas, do aquecimento do planeta, serão temas que se desenvolverão quase que automaticamente dentro do contexto uno entre ecoturismo e educação ambiental dentro de um efeito eminentemente sistêmico, aqui proposto.

       O presente trabalho teve por objetivo avaliar o ecoturismo como instrumento de Educação Ambiental numa dinâmica com discentes de duas turmas do componente curricular Ecoturismo e Meio Ambiente que se integra ao Núcleo Livre da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás, de responsabilidade da autora sendo a pesquisa realizada com fins acadêmicos e atendendo a todo este conjunto de construtos e pressupostos.

              

2-BUSCANDO UMA NOVA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO COMO POSSÍVEL FATOR EDUCACIONAL

       O turismo historicamente foi e é o maior dos movimentos migratórios da humanidade. Responde a necessidade do ser humano de espaço, movimento, bem-estar, diversão, entretenimento, lazer, expansão e repouso longe das tarefas impostas pelo cotidiano. É uma tentativa de escapar da rotina, conhecer novos prazeres, descobrir outros horizontes, conhecer pessoas, sabores, experimentar novas emoções. O produto turístico difere, fundamentalmente, dos produtos industrializados e de comércio, compõe-se de elementos e percepções intangíveis e é sentido como uma experiência (Ruschmann,1991).

       No contexto da crise ambiental planetária e suas incontáveis consequências, o que se requer é um novo comportamento humano regido, naturalmente, por outras percepções. E o reconhecimento do valor e da nobreza do que é o simples, o natural, o lúdico e divertido. Que se reveste da necessidade de mais do que altas tecnologias, de desenvolvimento acelerado, de indústrias, do luxo e da ostentação. O necessário é paz, silêncio, integração com a natureza e seus atributos. Abandonar metrópoles e buscar o ambiente do rural, de vilas e lugarejos para conviver com a população local, gente simples e, quiçá, autêntica, talvez seja também uma forma de lazer e ainda de aprender outros caminhos para a construção de um mundo e uma vida melhores, se possível, para todos. Dessa forma, o ecoturismo pode ser, em si, a causa, o efeito, o processo e o resultado de outras aprendizagens para um novo enfrentamento de uma vida saudável em busca, pelos meios corretos da felicidade, da paz interior, da saúde e do bem-estar das pessoas.

       O termo ecoturismo foi cunhado para identificar um segmento do turismo voltado para o lazer associado ao contato direto com a natureza em sua essência, com traços de aventura e emoção. E, claro que tais experiências irão gerar, querendo ou não, altos impactos internos na consciência das pessoas, alterando – espera-se – de forma positiva e correta seus procedimentos, comportamentos, sabedorias, em última análise, o que chamamos de educação com eixo no meio ambiente. Portanto, uma educação ambiental propriamente dita. Se ela já acontece no real concreto dos que praticam o ecoturismo, porque não sistematizar e organizar este processo dentro de uma nova visão de planejamento, ação, em busca de mais e melhores resultados neste sentido?

       Assim, no documento onde estão dispostas as diretrizes para a política nacional de ecoturismo, este é conceituado como “um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas” (EMBRATUR,1994).

       E ainda de acordo com a exposição do Motivos Interministerial nº 005 de 25 de outubro de 1994, configura-se o ecoturismo como uma “importante alternativa de desenvolvimento econômico e sustentável, utilizando racionalmente os recursos naturais sem comprometer a sua capacidade de renovação e  conservação, além de proporcionar benefícios econômicos, sociais e muitos outros para o País, principalmente, em áreas mais pobres  e remotas, propiciando a geração de empregos, a indução à instalação de micros e pequenos negócios, e a diversificação da economia regional. Propicia, ainda, a fixação da população no interior e a melhora das infraestruturas de transporte, comunicações, educação e de saneamento nas localidades consideradas destinos ecoturísticos. E, fundamentalmente, o ecoturismo é uma alternativa para financiar a proteção dos recursos naturais e culturais e a administração das áreas protegidas”.

       A falta do que se pode identificar como uma consciência ecológica é em muito responsável pelos altos revezes e alertas, notadamente, os ambientais a que todos sofrem: o calor excessivo, a carência de água, de verde, a contaminação do ar, toda modalidade de poluição, o aquecimento global que acabam por sintetizar uma espécie de “suicídio coletivo da humanidade”. Possíveis de serem neutralizados ou reduzidos com uma carga extra de educação ambiental e a que mais e mais pessoas tivessem acesso, discernimento, aprendizado e domínio. Seria, enfim, o referendar de uma nova cultura e uma nova consciência muito mais voltada para os valores e necessidades da vida, do ser humano e do planeta. E se o ecoturismo, suas práticas – e outros empreendimentos que fogem aos limites do presente estudo –podem ser instrumentos para este processo de educação tão necessário como urgente, por que não agilizar meios de operacionalizar tal processo? É preciso agir enquanto existe vida.

       O ecoturismo é uma atividade perfeitamente sintonizada com o ambiente e o meio sócio/cultural, o que necessita ser comprovado. Extensos danos podem ocorrer no ambiente e em todo tipo de vida a ele associado (Dodge, sd.).

 

3-A DUCAÇÃO AMBIENTAL DENTRO DO CONTEXTO DO ECOTURISMO                              

       Do verbo latino “educare”, educação significa arrancar para fora, sair, “como uma planta sai da terra ou germina por própria energia”, embora necessite de um ambiente adequado, água, higienização e outros cuidados, muitas vezes dependendo da ação e do conhecimento de outros. Educar e educação perpassam as etapas do acesso ao novo, do domínio do conhecimento e das novas performances aí adquiridas, sua operacionalização na prática e as transformações aí auferidas (Costa Neto, 2012).

O ser que se educa deverá mudar na sua forma de ver e de fazer as coisas – pois por educação subentende-se mudança, transformação no como externar seu comportamento, seu caráter, o saber e sua cultura. O que identificamos como a filosofia da práxis, ou seja, o novo, o diferente com o qual se opera, esperando que seja, logicamente, para melhor.

       Educação e vida são facetas de um mesmo código e uma deve interferir na outra de forma a moldar o seu status, sua operação e seu modo. Num mundo eivado pela educação e suas práticas as suas relações deveriam ser melhores, mais perfeitas, mais ajustadas ao que se busca, ou seja, um convívio franco, justo, agradável, confluindo melhorias da qualidade da vida em todos os seus aspectos. Assim sendo, como seria a sociedade de hoje se comparada a décadas ou, até mesmo, séculos atrás?

      Assim como na planta que se desenvolve, cresce, muda, a educação brota de dentro para fora enquanto a pessoa equaciona seus objetivos ou ideais com suas energias, aproveitando para tal das realidades circunstantes. É cada um que se educa a si mesmo. Outras pessoas podem favorecer ou prejudicar o processo, mas a última resposta tem que ser dada pelo próprio indivíduo. A educação, em especial aquela que se refere ao meio ambiente e às questões congêneres tem que ser libertadora, ela não pode ser impositiva ou massificante. Para isso deverá ser criadora, enquanto permite à pessoa ser ela mesma num sentido dinâmico de fazer opções” (Camargo,1991).

Portanto, todo processo educativo em si deve abranger todos os aspectos da personalidade e não, meramente, o intelectual ou o profissional, numa sistemática que dura toda a vida. Como um sistema aberto, em interação com o ambiente   o educando transforma o que recebe, ordena e reordena, criando coerências outras. Engendrando, portanto, novas histórias por meio dos novos saberes. (Ferguson,1980 & Camargo,1991).

       A educação, levando o indivíduo a construir-se a si mesmo, leva-o a descobrir seu lugar na sociedade não como objeto, mas como sujeito consciente e transformador desta mesma realidade (Freire, 1980 & Camargo,1991).

       Assim posta, a educação requer antes de tudo que os “seus agentes desenvolvam, dentre muitos outros, um compromisso social e político, questionando causas e efeitos dos resultados vivenciais e construindo, ao mesmo tempo, a dinâmica de uma nova ordem existencial e social a partir da solidificação dos valores humanos realmente necessários: consciência crítica, participação ativa, questionamento, integração cooperativa e facilitadora de conquistas para todos (Costa Neto,1994).           

Sendo a educação um processo de transformação, quando voltada para a natureza, cabe a ela, essencialmente, desenvolver potencialidades latentes, fazer eclodir algo novo e estimular outras ideias para minimizar ou evitar os danos ao meio ambiente, despertando a criatividade que existe dentro do indivíduo para resolver ludicamente os problemas, destruindo o condicionamento anterior para criar novos hábitos e rotinas com a natureza (Azevedo, 1995).

 Isto porque o meio ambiente natural é interação de vida no seu pleno sentido, necessitando seriedade nas decisões em alterá-lo pois, nesse processo a maior vítima é quase sempre o ser humano que atua sem que saiba como seu próprio algoz. Daí a necessidade, diria, mais que urgente de se reformular esta mesma consciência, o que aqui chamamos de educação ambiental (Godinho, 1973).

       Dentro dessa linha de pensamento os “educadores ambientais não só brasileiros ou latino-americanos têm insistido e conquistado espaços importantes, quando afirmam que a educação ambiental é, principalmente, uma educação política que visa a participação do cidadão e da cidadã na busca de alternativas e soluções aos graves problemas ambientais locais, regionais e globais” (Reigotta, 1997).

       A Carta de Belgrado, 1975, preconiza como objetivos da Educação Ambiental, que o indivíduo adquira valores sociais, um profundo interesse pelo meio ambiente e a vontade de participar de maneira ativa em sua proteção e melhoramento; adquirindo as aptidões necessárias para resolver os problemas ambientais diversos e superar os desafios afins, o que vem demonstrando a profunda necessidade de urgência neste sentido.

        Esses são os objetivos propostos por quem já possui satisfeitas suas necessidades básicas, os países industrializados e muitos, pós-industrializados como tem sido a grande tendência do presente milênio, em, praticamente, todo o mundo. Que compromisso teria um pobre excluído dos benefícios do progresso, em evitar a degradação ambiental, se a sociedade em que vive não cuida de impedir sua degradação como pessoa? Esse é o questionamento do terceiro mundo e que abre profundas feridas vivas e sangrentas que suplicam pela cicatrização e a cura.

       Os danos ao meio ambiente são as consequências do modelo de desenvolvimento que as sociedades escolheram, de certa forma insensíveis para com as pessoas e as condições de vida em um sentido mais amplo. Dessa maneira, é impossível analisar questões ambientais sem estabelecer uma relação entre riqueza, qualidade de vida, miséria e degradação ambiental, fome, pandemias, desemprego, violência e inúmeras mazelas que invadem o mundo e que o ser humano parece assistir de braços cruzados, pois, não foi, para isso educado ou informado. Em Tibilisi, 1977, se reconhece que o meio ambiente “não é somente o meio físico e biótico, mas também, o meio social e cultural, relacionando os problemas ambientais com os modelos de desenvolvimento adotados pelo homem”.

               Essa maneira de se pensar desperta para a necessidade de programas de educação ambiental e, principalmente, envolvendo uma atividade como o turismo. E, neste sentido, o ecoturismo oferece as condições mais que adequadas para a prestação deste tipo de serviço muito mais do que necessário e que deve ser feito com a maior urgência se quisermos, de fato, sobreviver a toda esta crise análoga, singular e diferente de todas as demais crises ambientais que já tivemos em toda a história da humanidade.

           Conforme afirma Capra (1990) a crise ambiental que vivemos hoje é gigantesca e singular. Jamais estivemos à beira de situações tão graves e definitivas a ponto de colocar em risco as condições de vida e, em última análise, até mesmo a existência do planeta terra. E algo fica claro que a solução de quaisquer dos problemas do atual desafio requer a solução de todos os outros com os quais se envolve e se define. É, portando, uma questão clara de mudança de paradigmas para o que teremos que educar ou reeducar as pessoas dentro deste contexto ambiental e aqui sugerimos uma ponte de ligação imediata com o ecoturismo e as suas características.

       Porque, como alerta Hurtado, 1992, em seu livro Educar para transformar, transformar para educar, os programas de educação popular, para produzirem mudanças e gerarem ações coerentes com os objetivos políticos colocados pelos responsáveis por eles, devem adotar posicionamentos metodológicos, filosóficos e paradigmáticos com coerência interna, externa e uma concepção, no mínimo, dialética que lhe deem coerência política e assertividade ética no planejamento e na execução de cada uma de suas etapas.

 MATERIAL E MÉTODO

 Para efetivação deste estudo utilizou-se como base os textos sobre legislação vigente no Brasil que abordam a Educação Ambiental e o Ecoturismo como se seguem abaixo, identificando e definindo cada uma das propostas de trabalho dentro do enfoque múltiplo da educação ambiental e do ecoturismo, conforme seguem:

·       Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.

·       Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

·       EMBRATUR 1994 - “Segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva a sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas”.

A dinâmica foi aplicada em datas distintas em aulas síncronas. A primeira dinâmica com a Turma A em fevereiro de 2021 e posteriormente com a B em agosto do mesmo ano. As turmas eram compostas de estudantes de diferentes cursos da UGF: Agronomia, Medicina Veterinária, Biologia, Educação Física, Filosofia, Geografia, Ciências Econômicas, Biomedicina, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Florestal entre outros.

No primeiro momento o(a)s participantes refletiram sobre o tema e posteriormente foram convidado(a)s a responderem a seguinte questão:  Como o Ecoturismo pode ser uma ferramenta de Educação Ambiental? Os resultados antes de serem analisados no presente estudo foram testados pela ferramenta livre CopySpider um detector de plágios. A metodologia aplicada foi a qualitativa na busca de entender quais as percepções individuais do(a)s discentes sobre o objeto de estudo do componente curricular o ecoturismo. A análise foi univariada.

 RESULTADOS E DISCUSSÃO

             Do total de 39 respostas oferecidas 7 (sete) foram eliminadas, 4 (quatro) na Turma A e 3(três) na Turma B.  A eliminação o correu por serem idenficados plágios dectados pela ferramenta CopySpider com probabilidade de similaridade superior a 5%. Este resultado inicial foi positivo considerando que no universo de estudantes em avaliação 82,05% demonstravam possuir opinião própria sobre o tema em estudo tendo trazido, por consequência, contribuições válidas para o enriquecimento da proposta de trabalho. Tendência ligeiramente superior na Turma A já que nesta eram 82, 6% e na B 81,25%

Todos os participantes - 100% relacionam o ecoturismo ao viés conservacionista da educação ambiental, com estratégias de diversificação dos métodos e processos neste sentido. Desses, 26% creditam que a consciência/conscientização do valor da natureza através do ecoturismo levará a despertar no praticante a necessidade de preservação/conservação da mesma. Uma noção subjetiva considerando assim infinitas possibilidades de se associar o ecoturismo com as práticas da educação ambiental no processo, no método, na criatividade, na participação ativa no contexto pedagógico e, no mais importante, que é a internalização dos conhecimentos, da nova cultura, reformulando, desta forma, comportamentos e procedimentos em termos da interação com a natureza, o encantamento, a preservação e o respeito a ela. Neste contexto 10% creditam a beleza cênica a responsabilidade por despertar no ecoturista a consciência da necessidade de preservar/ conservar a natureza, conforme já foi explicitado.

Em consonância com a Base para a ação contidas no Cap. 36 da Agenda 21, 18% dos discentes afirmam ser possível construir um desenvolvimento sustentável através de atividades ecoturísticas.

Agenda 21, 36.3 - O ensino tem fundamental importância na promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo para abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento. Ainda que o ensino deve ser incorporado como parte essencial do aprendizado. Tanto o ensino formal como o informal são indispensáveis para modificar a atitude das pessoas, para que estas tenham capacidade de avaliar os problemas do desenvolvimento sustentável e abordá-los.

Agenda 21, 36.10; (g) - Os países devem promover, quando apropriado, atividades de lazer e turismo ambientalmente saudáveis.

O destaque no presente estudo é o emprego do termo “importância” mencionado em 30% das respostas quando fazem referência a preservação/conservação da natureza. Um indicativo do valor atribuído ao ambiente. De ser o mesmo imprescindível.

No que se refere a promoção do bem-estar e a qualidade de vida ambas preconizadas tanto na conceituação da educação ambiental quanto do ecoturismo esse viés é pouco constado neste estudo, apenas 1% tem essa atividade como promotora de bem-estar na população autóctone.

Outro aspecto ignorado pelos discente é o viés cultural que se pretende seja protegido/conservado via ecoturismo. Um indicativo tratar-se de um assunto a ser melhor trabalhado no contexto da atividade turística.

 Turma A - Fevereiro de 2021

                         Das 23 respostas desta turma as eliminadas foram: as respostas 3, 10, 12 e 13.

1 - O ecoturismo propõe ao ser humano uma possibilidade de entrar em contato direto com a natureza, podendo fazê-lo aprender sentindo na própria pele a importância da conservação da mesma, o que conscientiza pessoas do mundo inteiro para a sustentabilidade. Sendo assim, acredito que não há forma melhor de educar alguém sobre a importância do meio ambiente e tudo que o envolve.

2- O Ecoturismo reúne 2 coisas importantíssimas, o lazer e a educação, então no prazer de uma viagem ou visita, de conhecer algo novo, o cidadão também aprende a importância do meio ambiente e do porquê ele deve ser preservado, sendo assim, firmando o Ecoturismo como objeto fundamental da educação ambiental.

3 - Plágio

4 - O ecoturismo é uma ferramenta importante para a preservação do meio ambiente pois garante a preservação durante um turismo na natureza, conscientizando os turistas sobre a importância de se conservar a harmonia natural do ambiente e de forma sustentável.

5 - Através da informação, da conscientização, mostrando que se pode desfrutar de tudo o que o ambiente nos oferece sem a sua degradação.

 6 - O ecoturismo pode ser uma ferramenta de Educação Ambiental porque é um exemplo de como o ensinamento teórico funciona com excelência na prática. Além de ser capaz de influenciar os turistas a manejar de forma sustentável, mostrando que podemos sim conviver em harmonia com o meio ambiente, conservando e preservando o mesmo, sem causar destruição.

7 - O ecoturismo traz conhecido esses ambientes com a natureza, assim, trazendo uma relação mais intrínseca do homem com o meio, consequentemente proporcionando um maior cuidado e preservação por tal âmbito.

8 - Por meio de projetos de educação ambiental, aos visitantes e moradores locais. Estes projetos podem incluir: palestras temáticas; placas educativas com textos simples que falem sobre o local, a importância para o ecossistema, de forma que as pessoas parem e leiam; uma conversa sobre o local, a importância, etc. entre empresas turísticas antes, durante e após os passeios com os turistas; oficinas com práticas de sustentabilidade, como coleta seletiva, reciclagem, reaproveitamento, que se destinem a todas as idades; a própria observação e vivência naquele ambiente de natureza proporciona valorizar o Meio Ambiente, fazendo necessário incentivar o ecoturismo o que aumenta as práticas sustentáveis durante a busca por destinos na hora de viajar/passear.

9 - Utilizar as belezas naturais juntamente com a diversão é uma ótima "brecha" para a educação ambiental. Incentivar sobre a preservação e conservação de tais lugares sem tirar o foco do descanso que a pessoa busca é fundamental, demonstrando que os recursos não são renováveis.

10 - Plágio

11 - Como o ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural, cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente ou seja quanto mais essa forma de turismo for incentivada mais pessoas aprenderão sobre a importância de preservar o meio ambiente, quanto mais ecoturistas mais educados ambientalmente seremos, assim o ecoturismo se torna uma importante ferramenta para a preservação e o compartilhamento de informações serão uteis a nossa necessária e incessante busca pela educação ambiental de todos em nosso planeta.

12 – Plágio

13 - Plágio

15 - Ele pode auxiliar no discernimento social do estado em que se encontra o Meio Ambiente, ajudando a espalhar as devidas atitudes a serem tomadas para amenizar os estragos causados à natureza.

16 - Com o objetivo de "turistar" e conhecer o local, surge uma grande oportunidade de se ensinar a Educação Ambiental, por meio do próprio lugar àqueles turistas.

17 - O ecoturismo pode ser uma forma da população conhecer o meio ambiente pelo contato direto, gerando e propagando a importância dos recursos naturais.

18 - Principalmente pela conscientização e agregação de conhecimentos por parte dos ecoturistas ao participar e interagir com o ambiente de forma responsável

19 - Pois o ecoturismo e a forma de mostrar e demonstrar as belezas e riquezas do planeta, e conscientizar as pessoas do que fazer para preservar.

20 - Com o Ecoturismo busca-se conscientizar a população local para a exploração do patrimônio de forma que consiga proteger o local, conservando-o, diminuindo assim a degradação ambiental.

21 - O Ecoturismo pode vir a ser uma ferramenta de Educação Ambiental a partir do momento em que ele proporciona a pessoas muitas vezes uma experiência marcante em algum ambiente natural, a partir disso o indivíduo aprende o quão importante é a preservação do meio ambiente.

22 - O Ecoturismo como ferramenta de Educação Ambiental instrui as pessoas a conhecer os lugares e compreender que é algo fundamental para nossa existência. Cria um certo vínculo afetivo nas pessoas, o que faz com que elas tomem consciência de que precisão preservar e conservar o meio ambiente.

23 - Quando o ecoturismo pode transmitir alguma experiência em ambiente natural, nesse momento a pessoa que teve tal experiência vai aprender e ajudar a preservar o meio ambiente.

 

Turma B – agosto de 2021

Das 16 respostas desta turma as eliminadas foram as respostas 6, 8 e 11.

1 - As duas práticas são marcadas por ações sustentáveis, com objetivo de uma construção de uma visão ambiental de proteção ao meio ambiente. Nesse sentido, o ecoturismo pode ser usado como ferramenta de educação ambiental, visto que é uma atividade que promove em sua prática a conservação dos lugares e a construção de uma visão ambiental, assim como o bem-estar dos envolvidos. Possui ainda, uma capacidade educativa e de consciência, por conta do contato direto com a natureza revelando questões que não são observadas comumente, aliada a informações sobre a importância da conservação e preservação do meio ambiente, proporciona ao viajante a consciência dos problemas socioambientais existentes. Sendo assim o ecoturismo uma ferramenta prática de educação ambiental, contribuindo com a construção de valores, conhecimentos e habilidades dirigidas para a conservação do meio ambiente, incluindo proporcionando ao turista após sua viagem, a criação de novos hábitos sustentáveis, resultantes da experiência vivida no ecoturismo, que por sua vez proporcionou a tomada de consciência sobre o meio ambiente ao viajante.

2 - Ao passo que as pessoas passam a ter o contato com a natureza (e também com as agressões a ela), proporcionado pelo ecoturismo, elas passam a se sensibilizar à problemática ambiental e então aprender como melhorar na perspectiva individual e também na política.

3 - O ecoturismo vai utilizar a natureza para que o indivíduo perceba a beleza e para incentivar a preservação e também o contato com a natureza. O ecoturismo também auxilia na economia local

4 - De modo que uma das bases do ecoturismo é o respeito ao meio ambiente, sendo assim, uma forma de educação ambiental.

5 - O ecoturismo pode ser utilizado como ferramenta de educação ambiental pelo simples fato de ser um exemplo claro do que é conservação. Ensina ao homem que ele pode se fazer presente no meio ambiente, não sendo necessária sua retirada de cena, afinal, ele é um integrante daquele meio. Mas sua presença e suas ações devem conter consciência e responsabilidade, pois ele pode lesar o meio de forma irreparável.

6 – Plágio

7 - Aliando o lazer e a educação o ecoturismo pode despertar a consciência do indivíduo para a conservação e preservação o meio ambiente, mostrando seu valor imaterial e como é fundamental para o planeta.

8 - Plágio

9 - Através do ecoturismo as pessoas são ensinadas na prática a como visitar um ambiente sem provocar alterações negativas e estabelece um maior contato com a natureza, aprendendo que cada um tem importância nos cuidados com o meio ambiente.

10 - O ecoturismo pode ajudar pois busca incentivar a sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações.

11 – Plágio

12 - O ecoturismo é uma forma prática para aplicar a consciência de sustentabilidade, conservação e preservação à sociedade.

13 - Com o ecoturismo as pessoas conseguem conhecer lugares e espaços naturais e reconhecer sua importância e benefícios para a humanidade. E com essa experiência o ser humano entende a necessidade de conservar e preservar o meio ambiente e assim o ecoturismo ser como uma ferramenta educacional para a continuidade de espaços naturais.

14 - Pode ser um grande incentivador da sustentabilidade pois atua diretamente com um dos setores da sociedade mais importantes para o exercício desta atividade: o meio ambiente natural.

15 - Na medida que o turismo desloca pessoas para um espaço e pode causar uma situação de perturbação na ordem natural das coisas daquele ambiente, o ecoturismo pode utilizar desse deslocamento para alertar para problemas ambientais/culturais de uma região, arrecadar fundos, difundir e elaborar conhecimento que ajudam a reverter essas problemáticas, prever novas e movimentar tais saberes no sentido da conservação daquele meio ambiente. Uma pessoa que vai fazer rafting em um rio mais acidentado pode ser orientada sobre a preservação das nascentes e de matas ciliares, ou sobre a importância de não descartar resíduos humanos diretamente no próprio rio por questões de saúde ou do próprio funcionamento daquele espaço etc.

16 - Em resumo pode ser uma oportunidade de aplicação das ações pensadas quando se trata de educação ambiental, uma oportunidade de aplicar aquilo pensado anteriormente, tendo em vista que é uma atividade em expansão.

 PARA NÃO CONCLUIR...

 O presente trabalho foi concebido a partir da ideia de que todo o esforço na preservação do meio ambiente, no controle do aquecimento do planeta e os cuidados com a água, a flora, a fauna, a própria terra em si, será pouco dentro dos desafios e problemas que se concretizaram, em especial, nas últimas décadas, o que se deve a uma astuta e absoluta falta de conhecimento, informação, consciência, enfim, da educação ambiental em termos mais amplos e complexos, não só no Brasil , mas, praticamente, em todas as extensões do mundo, em primeiro lugar nas regiões urbanas e nas metrópoles que, por si, já devastam a natureza quando se impõem brusca e barbaramente, ainda que coloquem em risco todas e quaisquer condições de vida, inclusive, e, principalmente, de seus habitantes – cometendo, portanto, ainda que inconscientemente, uma forma de suicídio coletivo.

É mais que urgente o desenvolvimento de uma chamada consciência ecológica em seu sentido mais profundo. Faltam às pessoas, tanto dos empresários, governantes, as pessoas do povo em todas as faixas etárias e demais condições sociais o senso de cuidado com os recursos naturais renováveis ou não, a sensibilidade, a visão para o entendimento da importância da preservação. A visão econômica ressalta aos olhos e para se ampliar esta fonte de meios todos e quaisquer recursos são válidos: o desmatamento ilegal, o assoreamento dos rios, a contaminação irresponsável dos mananciais e o uso desregrado da água para fins industriais, agrícolas, e, em última análise, até domésticos trazem consequências devastadoras para a vida no planeta, inclusive, conforme o caso, em muito curtos espaços de tempo.

Se bilhões de pessoas sobre o mundo – dezenas de milhões só no Brasil – usam desenfreadamente a água, só para exemplificar, no banho, lavando carros e calçadas, o que parece pouco, mas imagine o que isto pode significar ao longo das horas, dos dias, dos anos, dos séculos. Tudo constitui um fantástico absurdo, mas como é feito aos poucos, parece aos olhos incautos dos pouco educados ambientalmente, muito pouco o seu impacto, o que pode não significar nada, sendo este um ledo engano e o que tem levado a vida a padrões quase que insuportáveis e, podendo até, ser demasiado tarde para se tentar corrigir esta imensa defasagem em termos da possibilidade de vida no planeta.

Assim, se todas as alternativas são válidas nas tentativas de superação de já muitas décadas perdidas no campo ambiental e ecológico, por que não utilizar do ecoturismo como uma válida estratégia a mais e que poderá lograr imensos, positivos e surpreendentes resultados? É só mesmo uma questão tática, de bom senso, de vontade política. Resgatar o valor da vida simples, do convívio com nativos, a cultura popular, suas danças, cantigas, brincadeiras, festas e a descoberta do prazer, do lúdico que tais convivências – perdidas com o avanço das tecnologias e outros critérios do luxo e da sofisticação – podem render e proporcionar. A alegria de trocar o ronco efusivo dos motores pelos românticos e bucólicos canto dos pássaros, o banho quente pela natureza das cachoeiras, rios, e lagos, a beleza de um entardecer, o admirar um rio de águas azuis e caudalosas. O prazer e o teor de saúde da comida natural, crua, cozida a lenha e feita pelas mãos rudes de homens e mulheres simples, puros, cheios de solidariedade, amor e outros valores,  o frescor dos ares refrigerados pela brisa perfumada que vem da mata, etc. se todos estes segmentos forem aquinhoados no contexto da educação, certamente, trará muitas mudanças positivas, pró-ativas e em favor da vida, do bem estar e da saúde das pessoas, que é, enfim, o que, de fato se espera.

Explorar os recursos e meios do ecoturismo, fundindo-o em um só bloco com a educação ambiental, caminhando, assim para a unidade em termos da ciência deve ser sim o grande salto frente às poucas perspectivas e os muitos desafios que se instalam no bojo do Século XXI onde a humanidade não pode mais se dar ao luxo de esnobar, de varrer para debaixo do tapete quaisquer oportunidades neste sentido. O de convencer as gerações humanas da necessidade e da urgência de se revigorar os valores da natureza, do verde e de sua simbiose com a saúde, o bem estar das pessoas e o alcance da paz mundial a cada dia mais fugidia e mais distante.  Já passa da hora da humanidade inteira dar mais que este salto – este vôo – precisamos não escolher caminhos para a superação deste prejuízo, deste crime silencioso a que todos vimos sendo praticantes, ou, no mínimo, cúmplices em alto grau de culpabilidade, pela omissão, a ingenuidade, a falta de iniciativa.

Neste ponto, ou seja, no que diz respeito às questões ambientais, por falta de formação, consciência, conhecimento, temos errado muito, mas, felizmente, talvez, até, pelos infortúnios que se acumulam colocando em risco a nossa vida e  a das gerações futuras, parece que começamos a acordar. Há portanto, alguma esperança, alguma luz no fim do túnel. E este trabalho é mais um convite a descruzarmos os braços e fazer, cada um, educados e informados em termos ambientais a fazermos a nossa parte. A parte humana que cabe a quem ajudou a destruir e a acabar. Quem apedrejou estará disposto a afagar, a dar carinho, a cobrir a natureza de carinho, cuidados e afetos. Precisamos agir enquanto estamos vivos. Amanhã, infelizmente, poderá ser tarde demais.

 BIBLIOGRAFIA.

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sábado, 9 de abril de 2022

A ESCOLA COMO INSTRUMENTO DE TORTURA - POR PAULO LEMINSKI

 


Há muitos modos de se torturar uma criança.


Pode-se, por exemplo, fazer uma fogueira com todos os seus brinquedos e obrigá-la a assistir a cena. Esse era o método favorito entre os mongóis, que entendiam de tortura infantil como poucos.

Um outro método muito eficiente também é chegar de repente e dizer para a criança: - "Tua mãe morreu." Salvo caos raríssimos como o do imperador Nero, essa técnica dá resultados lancinantes. Já os russos preferem métodos mais sutis. Para torturarem uma criança eles enchem um quarto escuro com as obras de Lênin e Stalin e deixam a criança lá dentro por vinte e quatro horas. Os americanos, mais pragmáticos, preferem levar a criança a um parque de diversões bem distante e dizer: - "Titio vai ali comprar pipocas." E nunca mais aparecer. Só isso. Soube-se de casos em que pais ou responsáveis deixaram seus filhos ouvindo Frank Zappa, a todo volume, no escuro e por horas a fio, tortura preferida pelos pais contraculturais dos anos 60.

Pais imaginativos gostam de torturar seus filhos contando-lhes histórias em que lobos tentam entrar nas casas dos porquinhos, sendo que a criança é um dos porquinhos. Ou histórias onde a bruxa malvada prende a Branca de Neve numa jaula para que ela (a Branca, não a criança) engorde e fique no ponto para ser assada no churrasco de domingo. Essa tortura ficcional - é muito eficaz porque vai repercutir na vida onírica dos petizes, produzindo, a longo prazo, sonhos angustiantes e pesadelos insuportáveis, dos quais, a criança, inevitavelmente, acorda gritando: - "Mamãe!" ...É a hora certa para dizer: - "Volte a dormir, querida, a mamãe, o lobisomem comeu!" (...)

Mas, de todos os métodos para torturar crianças, nenhum se compara ao método chamado "escola". A escola deve ter sido inventada por um verdadeiro discípulo do Marquês de Sade. Basta dizer, para vocês fazerem uma ideia, que nestes hediondos calabouços as crianças são obrigadas a memorizar que dois mais dois "são quatro", que "pi" é um número sem fim, que um ao quadrado é um e que todo o número multiplicado por zero - mesmo que sejam infinitos bilhões - é zero. E não para por aí.

Uma das torturas mais requintadas usadas nestas tais "escolas" é a chamada análise sintática. Nome inocente para disfarçar um dos mais requintados tormentos que a doentia mente humana conseguiu inventar.

Basta dizer que na tal "análise sintática" diante de uma frase uma criança tem que adivinhar quem é o sujeito, quem é o predicado, quem é o objeto. Não nesta ordem, é claro. Adivinhar é uma brincadeira divertida. Mas não no caso da "análise sintática." Se a criança adivinhar errado, reprova, e vai ter que fazer de novo, aquele ano inteirinho tentando advinhar - sob a tortura, o pavor e o medo da reprovação - quem é o sujeito, quem é o objeto, quem é o predicado. Depois de reprovar uma, duas, três, quatro vezes, a criança desiste e prefere ser trombadinha, traficante, surfista ou cabo eleitoral de Paulo Maluf. Tudo, menos sujeito, predicado e objeto.

Peguem, por exemplo, o tal "sujeito inexistente", o sujeito das orações que expressam os fenômenos atmosféricos. Chove. Quem chove? Ninguém chove. Venta. Quem venta? O vento. Errado. Ninguém venta. O vento se venta sozinho.

Que dizer do tal "sujeito oculto"? Claro que o "sujeito oculto" é sempre o principal suspeito do crime de haver frases no mundo. A não ser por isso, por que se ocultaria? Exemplo de sujeito oculto: "O assassino se escondeu atrás da parede de tijolos." "O espião da KGB usa óculos escuros." "Jack, o estripador era filho da rainha Vitória." "O Menguelle está vivo e muito bem no Paraguai." Esses sim, são os verdadeiros casos de sujeitos ocultos. Mas as crianças levam anos para encontrá-los. E quando os encontram, já estão de cabelos brancos como Sherlock Holmes.

A invenção da escola, como vocês estão vendo, torna obsoletos todos os antigos métodos de torturar crianças. Com mais escolas, as crianças sofrerão muito mais, se tornarão ingênuas, omissas e prontas para aceitarem todas as torturas possíveis. Os adultos se divertirão muito e todos teremos, enfim, "aquele Brasil com que todos sonhamos."
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(LEMINSKI, Paulo. ...E por falar em tortura. Jornal A folha de S. Paulo, de 18.09.85, citado na íntegra por Antonio da Costa Neto, in, Paradigmas em educação no novo milênio. Goiânia: Ed. Kelps, 2004).

quinta-feira, 7 de abril de 2022

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS - FORMAS DE COMBATE

 



BREVES REFLEXÕES QUÂNTICAS SOBRE A VIOLÊNCIA NA ESCOLA

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Por:

(*)Antonio da Costa Neto 

Uma das grandes discussões que acontecem hoje no campo da educação é, justamente, a questão da violência que ocorre nas escolas. Trata-se de um preocupante problema, um desafio enorme em função da sua extrema gravidade, o perigo eminente, vez que envolve riscos, vidas, dores, sofrimentos, enfim, uma tarefa de extremas grandeza e importância que se coloca como uma barreira a ser suprimida – se possível, com a máxima urgência – por todos os direta ou indiretamente envolvidos com as escolas, a educação, o ambiente de estudos, quer formal ou mesmo informalmente. Uma séria e grave situação que nos expõe a todos, em algum momento  de uma ou outra maneira.

É fato que a violência acontece e que aumenta de forma galopante em nossos ambientes escolares. Desde pequenas brigas, discussões, desavenças, bulling, passando pela sua estrutura física, com o uso de instrumentos, armas, a força corporal,, luta, chutes, socos, pontapés. E isto em todas as dimensões e com amargas consequências. Horizontalmente, entre alunos ou destes contra seus professores servidores, funcionários, vizinhança.  Estabeleceu-se, assim, gradualmente, ao longo dos anos o que se assemelha a uma guerra, com pequenos e grandes crimes, sangue, até mortes, o que, sem sombra de dúvidas, gera uma preocupação enorme, sem precedentes de suas gravidades como temos nos certificado, em especial, nos últimos tempos.

Mas acredito sim que a solução depende, em princípio, de um novo e profundo olhar. Diria eu – para estar na linguagem da moda – um olhar quântico, enxergando para além da mera evidência do óbvio. Entendendo e relativizando a relatividade dos fatos: o que é bom para a ordem, a disciplina, o funcionamento da escola, pode, e, geralmente é péssimo para a pessoa, a alma, o sentimento, podendo sim – e na maioria das vezes está – violentando as pessoas.  Faz-se necessário relativizar as causas, os efeitos, os processos e os resultados, interligados, em pleno efeito dominó, desta mesma violência, podendo, assim, de certa forma entender tal fenômeno e articular meios e condições capazes de superá-lo. Faz-se necessário que os gestores das escolas e, em especial, os professores, responsáveis pelos processos didáticos e pedagógicos ampliem as suas sensibilidades e passem a ver e a entender os elementos e substratos que se ocultam debaixo de suas próprias práticas, gerindo e ampliando esta mesma violência que tanto nos atordoa.

Sim, as próprias práticas pedagógicas e os aparatos formais da escola podem estar concebendo e ampliando as mesmas violências  que se combatem – num autêntico faz-e-desmancha absolutamente enlouquecedor.  Por que sim, não pode e nem deve ser a escola um espaço para isto, mas, muito pelo contrário. Para se fazer, aprender, ensinar e concretizar uma política de paz, de entendimento, de relações sadias e produtivas, calcadas no diálogo, na compreensão, na empatia, nos ditos valores humanos, produtivos e edificantes que devem – ou que deveriam – constituir a alma das pessoas. E, também para isto é que elas vão à escola em busca de se educarem e de se tornarem  melhores.

Falo em olhar quântico referindo-me a um novo perceber das funções da escola frente às dimensões da sociedade capitalista, já em si, competitiva e violenta. Não tendo, por isso mesmo a escola, a educação e seus agentes, em princípio sabido como agir dentro deste vendaval,  neste turbilhão de fatos e fenômenos o que levam-me a perguntar: - Se a dimensão quântica advoga a ideia de que tudo se liga a tudo, transcendendo valores e resultados similares, onde então estariam as bases desta violência na escola?  Não seria a escola também em si – quântica e profundamente falando – um laboratório permanente de violências simbólicas e intelectuais que, uma vez repetidas e repisadas durante anos nas cabeças das crianças, dos adolescentes e dos jovens, não acabam por fazer explodir a violência concreta que agora tanto nos assusta?

De acordo com determinadas linhas do pensamento, em especial as  humanistas de muitos dos atuais teóricos da educação, da psicologia, da pesquisa e da didática, a violência na escola pode começar sim pela obrigatoriedade legal de ter que frequentá-la. Claro que, num sentido macro e dentro de uma certa ordem política, podemos assim dizer que isto pode estar correto, mas, inegavelmente, é violento. Submeter, ordenar, determinar coercitivamente pela lei e, não raro com o poder de polícia que a criança tem que ir à escola, embora ela possa não querer  ou desejar isso, não podemos negar: é uma primeira e brutal violência e para superá-la temos que ter sim, um olhar sensível em busca deste entendimento.

Uma sociedade que se quer democrática, justa e livre não pode usar da coerção, dita legal ou institucional para conduzir seus métodos de ação, pois,  isto é de uma incoerência absolutamente inaceitável o que precisamos compreender com profundidade já no advento do terceiro milênio e num tempo de plenos direitos humanos e do exercício da cidadania. A força coercitiva  e determinante é,  talvez, a maior de todas as violências e nossas escolas estão, no seu dia a dia, eivadas disto.  E o que é pior, ninguém  parece perceber os seus males.  Ter que ir à escola – todos os dias durante toda a melhor fatia da vida -  responder a uma chamada nominal ou numérica – o que é pior ainda – escutar, ler, escrever, estudar, aprender, o que muitas vezes não interessa, se renega, não se quer. Enfrentar um professor, uma professora com quem não se simpatiza, colegas com quem não se comunga ideias, sentimentos ou empatias. Cumprir horários que lhe são impostos sem o menor consentimento ou estudos de condições, etc. Usar um uniforme do qual não exista um menor teor de vontade e muito mais. Mas isso são detalhes. Sim, são. Mas juntos e reforçados por todos os anos vão  corroendo a liberdade e consolidando a violência que cresce dentro de cada pessoa que irá a seu modo colocá-la pra fora.

Ter que se sentar neste ou naquele lugar. Levar para casa, além dos muitos que já possa ter, problemas para resolver, trabalhos, estudos, tarefas, de preferência, todos os dias e sem descanso, como um treinamento operante para fazer o que não dá prazer, não interessa e não reclamar por isso. Ter determinado o espaço e as condições para a satisfação de necessidades fisiológicas, um cardápio alimentar incompleto; um ambiente feio, não muito limpo, mal cuidado, etc. são maldades que as escolas, sem que saibam, impõem aos seus alunos, violentando seus corpos e almas.  Ser corrigido, chamado à atenção, exposto frente aos colegas e receber notas e castigos com os quais muitas vezes não se concorda e não ter o direito de falar, revidar, se explicar devidamente; já seria em si, um elenco enorme de violências intelectuais e simbólicas, que, juntas e alinhadas  só poderão gerir as violências concretas e é, sobre isto que nós, educadores, preocupados com a violência nas escolas temos que nos debruçar antes que seja tarde demais. Levando, assim,  a um possível e definitivo caos que seria o fracasso inevitável da educação, das escolas, das pedagogias  e de todos os aparatos que acercam toda a realidade escolar e seus efeitos nas pessoas e na construção da sociedade que queremos.

Diz a escola que não quer a violência. Mas, inadvertidamente, ela faz tudo para adequar os sujeitos – aos quais julga educar – a se ajustarem à uma realidade social violenta, competitiva ao extremo. Segregada pelo ter, o poder, centralizando a renda , as decisões e socializando a fome, a miséria, o desemprego, o medo. Ora, não seria isto semear e propagar violências outras que se tornam mais numerosas e mais plurais, justamente, na mesma medida em que se tornam mais raros e escassos os bens materiais ou não, os meios e as condições de vida? Como vai querer a escola combater a violência física, a briga, a luta, o sangue, a morte, ao mesmo tempo promovendo e legitimando a violência simbólica, a violência intelectual, a violência do poder e da imposição em suas próprias práticas? Não estaria a pedagogia simplista dos resultados capitalistas simbolizados no percentual de frequência, na obediência extrema às militares imposições, à nota, à aprovação na medida em que se diz sim e não se revida a controles e imposições, ampliando e diversificando  esta violência óbvia e que tão fortemente se manifesta?

Pensando, então num fazer pedagógico não-violento podemos, em princípio, enumerar alguns elementos, passos, ações que podemos sugerir a aplicação no cotidiano da escola, dentre ouros, apenas para exemplificar. São pequenas medidas graduais, simples, corriqueiras, que, certamente, agregarão o lúdico, o bem-estar, o valorizar a pessoa, amortizar o ambiente, humanizando as práticas educacionais e tornando-as, ao longo do processo, agradáveis, não violentas, e, se possível, plenas de boas essências. Assim, os agentes educacionais, a nosso ver, devem:

·        Horizontalizar as formas de tratamento, conhecendo, memorizando e se referindo ao aluno chamando-o pelo próprio nome ou a forma previamente combinada  - de preferência que todos se tratem respeitosamente por você, suprimindo títulos e outros pronomes de tratamento. Um detalhe, que, certamente, fará a maior diferença reduzindo muito da conturbação do ambiente escolar.

·        Flexibilizar horários e personalizar exigências, limites de chegada, ampliando a tolerância para os que moram mais longe ou têm mais dificuldades que os demais para se locomoverem até a escola. Toda padronização exclusiva prejudica uns mais do que outros e isto também é, de certa forma, violentar.

·        Estabelecer, no cotidiano dos processos de ensinar a indução e a dedução simultâneas, permitindo que todos falem, ainda que ordenadamente, quando quiser, colocando para fora suas ideias, crenças, impressões, críticas, concordância, discordância. Muitos surtos e explosões vêm desta angústia acumulada na alma de não poder expressar o que quer e o que sente, no devido momento em que o fenômeno acontece.

·        Conhecer e considerar as diferenças individuais, entendendo que alguns aprendem ouvindo, outros lendo, falando, escrevendo, documentando, apresentando sínteses. Uns raciocinam melhor sozinhos, outros em grupos. Os “insights” de aprendizagem em alguns acontecem na hora, outros depois do sono, alguns demoradamente, em outros, nunca, o que precisa ser reconhecido e considerado.

·         Concluir o ciclo de indução, dedução, argumentação, sistematização e conclusão em cada unidade de conhecimento trabalhada. Este fechamento é absolutamente fundamental, oxigenando as sinapses nervosas, reduzindo o estresse mental, a fadiga intelectual e favorecendo a um aprendizado agradável e completo.

·        Entender que nem todo o mundo precisa aprender tudo, e, muito menos, da mesma forma. Alguns precisarão de mais matemáticas, outros de mais linguagem, artes, história, eletrônica, informática. Relativizar e dosar o conhecimento – como uma dose de medicamento que se ministra para diferentes comorbidades, é, sim uma grande sabedoria.

·        Diversificar os métodos. Nem todo o mundo gosta de ficar sentado, calado e quieto por horas. Insira a dinâmica de grupo, o movimento, a teatralização, o diálogo, a música, as brincadeiras, as técnicas de relaxamento e o controle da respiração. O estresse do dia a dia, o medo da própria violência, os ônibus lotados, o cansaço da caminhada precisam ser compensados de forma livre, lúdica e salutar. Depois de se subir uma escada longa e exaustiva – como é a vida cotidiana de muitos de nós – é preciso descansar, parar, respirar para depois conseguir o que se pretende e isto deveria ser feito todos os dias, tanto no início, como no final das aulas, das atividades pedagógicas.

·        Desenvolver todas as atividades em círculos, dando um adeus definitivo às seletivas e segregadoras filas que privilegiam poucos e castigam, violentam, prejudicam muitos. Ao invés de posições classificatórias de primeiros até os últimos você tem uma classificação igualitária para todos que estão no círculo. Isto, além de facilitar a operacionalização de qualquer processo é, também, absolutamente democrático, dando a todos e da mesma forma, o direito de acesso, visão, vez e voz.

·        Corrigir deveres, tarefas e demais atividades acentuando e valorizando os acertos e não erros. A atividade convencional de correção de atividades pedagógicas têm funcionado, tradicionalmente, como um verdadeiro bombardeio de caça ao erro para tirar ponto, diminuir a nota, como se ela fosse um prêmio de consolação para os privilegiados “mais aptos”. Uma ação seletiva, draconiana como quem aciona força de trabalho e o ato educativo por excelência não pode ser assim. Ao contrário, é preciso que seja caloroso, convidativo, humano. Não posso, como aluno ter medo do resultado do meu trabalho “possivelmente, cheio de erros. Preciso sim de expectativas e estímulos para melhorar. Corrigir com caneta vermelha é como ensanguentar o trabalho, muitas vezes com empenho e dedicação. Se pudermos evitar este tipo de coisa estaremos violentando menos os corpos, as almas e o desejo de estar na escola para aprender.

·        Entender que o dever de casa, em especial em grande quantidade e exigido cotidianamente, bem mais do que um recurso de aprendizagem e fixação é uma forma de treinamento operante na linha pavloviana para que facilite a aceitação do fazer muito e receber em troca um nada ou quase nada. Além de passar na escola boa parte do dia, não raro, o aluno terá ocupar boa parte do seu tempo restante fazendo os deveres de casa para que, assim, permaneça ocupado, não podendo dedicar-se a atividades lúdicas e do seu interesse. Permanecendo ocupado e recebendo correções ou uma nota meramente simbólica a pessoa estará pronta para se entregar, futuramente  a muito trabalho e pouca remuneração no que se sustenta o nosso modelo capitalista. Além de uma violência intelectual tal prática, quando repetida em excesso será, igualmente, uma violência econômica, social e profissional, quando não agora, mas no futuro da pessoa e da sociedade da qual ela faz parte.

·         Por último, mas, nem por isso, menos importante, é preciso que o aluno queira ir para a escola e se sinta feliz, gratificado, realizado em frequentá-la. Assim, a chamada deve ser gradualmente substituída pela boa qualidade do que se faz e se desenvolve na escola, sendo, assim, um convite natural a estar na escola e desenvolver nela o seu aprendizado, a sua educação. Flexibilizar a obrigatoriedade, a regra, a norma e ampliar o desejo, a felicidade, fazendo da escola um local de encantamento.

Não se pode definir os parâmetros que favorecem a uma certa violência capitalista de um modelo como o nosso sem provocar, mesmo que em níveis inconscientes, violências outras que tanto nos assustam, assolam, neurotizam, matam e preocupam. A violência que a escola gera é processual, não palpável, não é física e não pode ser vista. Ela amadurece e se encrudesce ao longo dos muitos anos desde que a criança vai sonolenta para o jardim de infância e, ao longo de muitos e ininterruptos anos, vai assimilando fragmentos inúteis de muitas teorias, incorporando práticas segregadoras, aprendendo a competir, a neutralizar a vontade  e a aplaudir algozes. E um dia, é, claro, isto explode corporificando a mesma violência que agora queremos combater, só que agora, de forma física, concreta e muito mais ampla, pois se multiplica pelos inúmeros impulsos que foram recebidos os seus impactos quer seja na imposição de regras e normas, no não ouvido, no ponto tirado na humilhação sofrida e da qual não foi possível se defender e talvez estamos fazendo isto da forma mais incoerente. O que apresentamos pode ser considerado sim – em especial pelos mais céticos – como um conjunto de detalhes sem importância. Mas não podemos nos esquecer que como “aqueles outros detalhes que aqui combatemos” juntos e operacionalizados repetidamente eles irão fazer a grande diferença. A diferença feita para o bem. Pode parecer que não mas é uma diferença que também conta.

Ai vem a pandemia da Covid 19 que reforça todo este estado de coisas. Enfraquece as relações, anula vontades e desejos, enlouquece as pessoas. Acirra a violência e faz com que a principal função de todos os envolvidos com a educação seja superá-la, o que começa com o combate à causa de tudo isto que é, justamente, a violência simbólica e pedagógica. A violência do intelecto com a qual a escola sempre  trabalhou e se  fez presente na vida das pessoas durante os séculos infindos de sua história. Mas que, agora precisa, necessariamente de chegar ao seu final e para tanto os educadores devem refinar seu olhar, superar a dificuldade de perceber as múltiplas violências que eles próprios promovem, mudando, com a urgência possível, alguns pressupostos e muitos paradigmas.

Claro que a escola prescinde de limites, sem os quais inexiste a organicidade. A diferença é que em termos educacionais, ao invés de impostos estes mesmos limites precisam ser, efetivamente, negociados. No cômputo da não-violência ninguém, nem mesmo o aluno cumpre normas que não ajudou a construir. Faz-necessário que a vontade, o desejo de todos estejam presentes na definição de tudo o que irá acontecer naquele ambiente ou em decorrência dele. Assim,  a liberdade , a flexibilidade devem fazer parte dos contextos éticos das definições das coisas que acontecem ou não, com o que parece-me a comunidade escolar não está acostumada e ainda combate com veemência total a este tipo de coisa.

Horários flexíveis e negociados, professores escolhidos perante trocas, conhecimentos, conversas e adesões, palpites de ambas as partes. Participação efetiva da família e do próprio aluno nas decisões das escolas, minimizando os antagonismos brutais que acontecem. Ninguém obriga ninguém a nada. A chamada deve ser substituída – ainda que gradualmente – pela qualidade das aulas, a ludicidade dos encontros, as surpresas, as novidades, os encantos. O aluno precisa desejar ir para a escola e se sentir feliz e realizado dentro dela. E, de preferência, ficar chateado por ter que ir embora.  Deve-se estudar sim, aquilo que agregue valores que  interessem, que contribuam para a felicidade, a realização enquanto sujeito, pessoa, autor e ator da própria história e não ao contrário. Ritmos, estilos, formas de aprender, desejos, metas, dificuldades e facilidades precisam ser conhecidos e considerados no entendimento de que cada indivíduo é um universo diferenciando, não podendo, como dizia Paulo Freira, engessar métodos; vestindo em todos uma roupa de tamanho único que serve para todos mas que não fica bem em nenhuma pessoa.

Quem é violentado, violenta. Existindo aí, naturalmente, uma proporção geométrica que empurra para mais e maior o próprio processo violento. É muito mais fácil do que se imagina, e, diria até, automático que o violência simbólica – intelectual,  psicológica, etérea, não-física e não-perceptível se transforme na violência concreta, palpável, sangrenta, criminosa. Quem tem, por exemplo, sua vontade descumprida quer gritar. Quem ouve o grito precisa urrar, dar uns tapas. Quem recebe o tapa distribui palavrões e murros e daí para o “tiro facada e bomba” pode ser sim, uma questão de segundos.  E assim se propagam as dimensões do crime, das guerrilhas, das dores e toda a sorte de sofrimento. E nossas escolas, infelizmente, estão cheias disto.

  Vestir-me  do jeito que não gosto e o que não foi-me perguntado se agradava ou não é, sim, um tipo de violência. Julgar é violência. Dar ou tirar notas, pontos, é violência. Reprovar é violência. Impor regras e normas, conteúdos e assuntos, espaços, colegas, professores, enfim, tudo o que não é escolhido por consenso violenta o sujeito. Em contrapartida, o capitalismo opressor e periférico só sobrevive  com estas e as violências outras, das quais e com as quais sobrevivem as escolas  que se transformam, a cada dia em odiosos calabouços, sendo esta a percepção que devemos ter e a atitude que devemos tomar. Não dá para servir, há um só tempo a dois senhores: ou trabalhamos pela dimensão exploradora do nosso sistema econômico sendo, profundamente violentos em todos os sentidos ou tenhamos a exata convicção do que devemos mudar. E a violência na escola e na sociedade, enfim, poderá ser superada e vencida.  É tudo uma questão de consciência. A consciência da certeza da necessidade de mudar. Mudar ontem.

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(*)Antonio da Costa Neto é professor aposentado, pesquisador, consultor em programas de educação, atualização de professores. Fundador do Instituto Humanizar – assessorias especiais para programas de educação. Autor de livros e artigos. Contatos para consultorias, pesquisas, cursos, palestras, seminários e afins:  antoniodacostaneto@gmail.comwww.mudandoparadigmas – WhatsAap: 61 99832 25 37